Um diário pessoal, de uma menina de 13 anos, mostrou ao mundo como os nazistas caçavam, enjaulavam e matavam os judeus. E 75 anos após o fim da grande guerra ele continua marcando.
O Diário de Anne Frank mostra o dia a dia de uma família durante os primeiros anos da ocupação nazista e o risco de morte que isso trazia. A menina e seus familiares sobreviveram, escondidos, por exatos 743 dias no anexo de um apartamento em Amsterdã - a capital holandesa havia sido ocupada pelo exército alemão. Publicado há sete décadas, o Diário tornou-se um clássico mundial e o maior sobre o holocausto, chegando à marca de 50 milhões de cópias vendidas. E já foi mostrado de diversas formas: cinema, tv, teatro e outras formas.
Pois agora, o documento escrito por Anne Frank ganha duas novas versões e com uma leitura mais aberta às novas gerações. Os quadrinhos.
O Diretor de cinema e roteirista Ari Folman e o desenhista David Polonsky criadores de A Valsa de Bashir (aclamada animação vencedora do Globo de Ouro de filme estrangeiro e indicada ao Oscar, em 2009) lançam O Diário de Anne Frank em quadrinhos e preparam uma versão para o cinema. A adaptação para os quadrinhos está sendo publicada em mais de 50 países e foi apresentada em Paris.
Converter o livro para graphic novel exigiu dos autores um brutal esforço de concisão. Se fosse transposto na íntegra, a obra em quadrinhos teria 3,5 mil páginas. O diário gráfico foi, então, sintetizado e adaptado por Folman. Sua maior riqueza em relação ao texto original talvez seja o fato de ter sido imaginado e traduzido para os quadrinhos pelos traços de Polonsky, exatamente como foi escrito o original escrito por Anne Frank até sua morte, no campo de concentração de Bergen-Belsen, em março de 1945.
A adaptação mostra a incompreensão e angústia do início da perseguição e também as dúvidas e sonhos (com pitadas de humor, típico da adolescência).
“À noite, costumo ver longas filas de gente boa e inocente com crianças chorando, andando sem parar até quase caírem. Ninguém é poupado. Doentes, velhos, crianças, bebês, todos são forçados a marchar em direção à morte”, escreve Anne Frank, no original e mantido pelos idealizadores. As ilustração trazem rostos magros, olhos tristes e mãos ao alto que falam por si. Cheias de medo, como foi de fato.
Em Paris, durante a apresentação, os autores comentaram sobre o desafio de trazer o texto para as novas gerações, usando para tanto, uma linguagem mais atual e marcante. Folman lembrou, ainda, do impacto da leitura do Diário de Anne Frank quando se é adulto, e disse ter imaginado um livro voltado para crianças e adolescentes. “Um jovem não consegue apreciar o valor literário do livro como um adulto”, lembra Polonsky. Por isso, os autores frisaram, na adaptação aos quadrinhos, os temas que atravessam o imaginário dos jovens. “Quando se é adulto, lê-se o diário sob o prisma de uma adolescente falando de você, adulto. Quando se lê ainda garoto se tem outra perspectiva”, explicou Folman. “Adolescentes e crianças, em especial meninas, vão encontrar o que eles precisam no diário original: a relação com a mãe, com outras crianças, o amadurecimento sexual.”
Isso não significa, porém, que a versão em quadrinhos seja infantilizada demais ou tenha perdido seu caráter político. O contexto opressor da guerra é onipresente. Em um deles, a família aparece adormecida em torno da mesa de jantar, e no texto se lê: “Querido Kitty, o número de ataques aéreos britânicos cresce a cada dia. O Hotel Carlton foi destruído. Aviões ingleses carregados de bombas incendiárias caíram bem em cima do Clube dos Oficiais Alemães. Não temos uma boa noite de descanso há séculos”, conta Anne em quadrinho ilustrado com a cidade em chamas.
O diário gráfico e a versão para o cinema tem a missão a de ajudar a eternizar a história do holocausto entre novas gerações.
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